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terça-feira, 15 de dezembro de 2015

ZOOTECNIA DE PRECISÃO:

Aumenta eficiência e reduz perdas:

Seguindo a modernização da agricultura, zootecnia de precisão começa a despontar na criação de aves, suínos e bovinos.

Por: Joana Colussi

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Sistema "dark house" é mais rentável que o convencional, segundo os irmãos Müller, produtores em Pareci NovoFoto: Félix Zucco / Agencia RBS

Depois de firmar raízes na agricultura, ao gerar maior eficiência e redução de perdas nas lavouras brasileiras, a precisão começa a fazer brilhar os olhos de pecuaristas que buscam melhores rendimentos na produção de carnes. Ao adotar a chamada zootecnia de precisão, criadores de aves, suínos e bovinos conseguem controlar ambiente, nutrição, manejo e sanidade com ajuda da tecnologia — dando o tratamento exato para a necessidade dos animais.
Boa parte das práticas disseminadas a campo ou em sistemas de confinamento não chegam a ser grandes descobertas. O diferencial trazido agora por equipamentos e programas de computador é a capacidade precisa de analisar as condições da criação, do ambiente e do estágio de desenvolvimento da produção.
— É preciso criar os animais conforme suas necessidades, reduzindo a variabilidade daquilo que se produz. Para isso, é preciso ter controle e gerenciamento de todos os processos — destaca Antônio Mário Penz Junior, diretor global de contas estratégicas da Cargill Animal Nutrition, citando modelos robustos que consigam interpretar a produção de forma matemática e não subjetiva.
O que era feito apenas manualmente ganha agora a precisão de equipamentos e softwares específicos. A avicultura é o setor da pecuária que mais avançou nos últimos anos em sistemas de precisão. Maior exportador mundial de frangos, o Brasil tem boa parte de seus aviários automatizados, desde o sistema de alimentação até o controle de climatização. Nos modelos mais modernos, a temperatura e a luminosidade externa não têm nenhuma interferência na criação dos animais. Produtores de frangos em Pareci Novo, no Vale do Caí, os irmãos Mauri Muller, 47 anos, e Marcos Müller, 44 anos, investiram mais de R$ 600 mil no sistema mais moderno de "dark house" (casa escura, em inglês) — totalmente vedada, com paredes e tetos com chapas isotérmicas.
Monitoramento 24 horas
Por meio de sensores espalhados por todo o aviário, um sistema de informação controla as condições biotérmicas do ambiente. Conforme a idade do lote, aciona o calor gerado por forno à lenha ou a ventilação de exaustores e placas evaporativas.
— O conforto térmico permite que os frangos ganhem peso mais rápido — explica Mauri.
Os ganhos do sistema são comparados com outros três aviários convencionais que a granja mantém, além de um quarto com uma tecnologia um pouco inferior. No mais moderno, os produtores conseguem alojar de três a quatro animais a mais, chegando até 21 frangos por metro quadrado, e reduzir o tempo de abate em até 1,5 dia. O sistema também diminui as lesões na carcaça, já que os animais se movimentam menos com a baixa luminosidade e temperatura controlada.
— No aviário moderno faço um lote a mais por ano. Ganho no volume e na qualidade. O retorno do investimento virá em oito anos — conta Mauri, que produz 1,2 milhão de frangos griller (pesam até 1,3 quilo) por ano, 100% destinado à exportação.
Gestor da área corporativa de aves e suínos da JBS no Brasil, José Antonio Ribas Jr., destaca que a modernização da produção de aves é um caminho natural da atividade, que trabalha com margens pequenas e segue exigências do mercado externo.
— Além dos ganhos zootécnicos, a automação aumenta a precisão das análises e reduz custos com mão de obra, cada vez mais escassa.
Conforme o executivo, enquanto o modelo convencional de aviários requer um produtor para cada 18 mil aves, nos sistemas mais modernos são produzidas 100 mil aves para cada produtor. 
Alimentação eletrônica na suinocultura é projeto para 2016 no Estado
Foto: Diogo Zanatta, Especial
Embora de forma mais tímida do que na avicultura, a produção de suínos também utiliza práticas mais precisas e eficientes, especialmente na reprodução animal. O tratamento diferenciado já era feito com fêmeas prenhes, que ficam em boxes individuais e recebem alimentação conforme o peso e estágio da gestação.
— A análise sempre foi pelo olho do produtor, que decide a quantidade de ração que a matriz precisa, dependendo do estágio corporal — conta Valdecir Folador, presidente da Associação dos Criadores de Suínos no Estado (Acsurs).
Práticas antigas são associadas agora à tecnologia da informação. Um sistema de alimentação eletrônico, já utilizado por granjas de Santa Catarina e de Goiás, libera a quantidade de ração indicada conforme as informações contidas em um chip fixado na fêmea em gestação ou em lactação.
— O programa faz formulações nutricionais específicas para cada animal. A individualização permite que cada um receba o que precisa, de forma eficiente e sem desperdício — explica Fernando Antonio Pereira, presidente-executivo da Agroceres no Brasil, empresa da área de genética de suínos.
No Rio Grande do Sul, os investimentos em projetos de alimentação eletrônica na suinocultura ainda são pequenos. Os primeiros aviários com a tecnologia deverão começar a operar apenas em meados de 2016.
Os avanços tecnológicos na produção de carne, com a zootecnia de precisão como premissa, é um caminho sem volta, conforme o diretor de produção da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ariel Mendes.
— O mercado mundial exige que sejamos cada vez mais competitivos — completa o executivo.
Diretor global de contas estratégias da Cargill Animal Nutrition, Antônio Mário Penz Junior, vai além ao prever o futuro da produção animal.
— O mundo se encaminha para a precisão. Quem não seguir nessa linha, não sobrevirá no mercado — resume Penz.
Em 2016, a multinacional deverá trazer ao Brasil equipamentos capazes de interpretar de forma precisa a composição das matérias-primas usadas na fabricação de rações animais. O sistema de identificação já é utilizado hoje em unidades da Cargill no México e na Argentina.
Entenda a zootecnia de precisão
A zootecnia de precisão utiliza a engenharia de processos para tornar o sistema de produção de carne mais eficiente e competitivo.
Engloba todas as atividades rotineiras da fazenda, desde nutrição, manejo, sanidade até o bem estar do animal - visando aumentar a eficiência e a qualidade da produção com ajuda da tecnologia.
Os conceitos utilizados são semelhantes à agricultura de precisão, que gerencia detalhadamente o sistema de produção visando reduzir perdas.
Busca melhorias de produtividade, redução de custos e atendimento às demandas atuais, como o bem-estar animal.
O gerenciamento detalhado de todo o sistema de produção permite ao pecuarista, mesmo no caso de grandes rebanhos, tomar decisões precisas e de forma rápida, já que o monitoramento é em tempo real.
A chamada "fazenda inteligente" já é uma realidade no continente europeu e nos EUA.
[Albenir Querubini] 

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